Os 20 anos dedicados pelo massagista Fula ao Santo Ângelo parecem ter sido esquecidos em poucos dias. Com a reformulação do grupo técnico para este semestre, profissionais foram contratados para auxiliar o clube em sua campanha. Mas Fula resolveu sair.
Quem foi aos treinos do Santo Ângelo nas últimas semanas sentiu falta da voz alta e rouca que sempre ecoou naquele espaço. Massagista, ele foi funcionário do Santo Ângelo por 20 anos. Hoje, com 61, ele diz que sua saída do clube se deu por falta de sintonia entre as opiniões dele e de outros integrantes da comissão técnica.
Agora, ele, que também é árbitro, apita jogos na região e só verá os jogos do Santo Ângelo do outro lado da cerca. Nas arquibancadas. Nada de bolsa térmica em suas mãos. Sem os copos de água que sempre ofereceu aos jogadores durante as partidas. Educado e respeitoso com quem fica, Fula diz preferir não citar nomes, nem ser mais direto no que se refere ao motivo de sua saída. “Não adianta procurar culpados, não quero deixar uma imagem ruim. É preciso ter uma postura de respeito com o clube e os amigos que tenho lá”, defende-se.
Amigos, ele tem dentro e fora dos campos. Dos jogadores, é quase um paizão. Brincalhão e querido por todos os atletas, afirma que sabe falar “o palavreado da gurizada”. Por isso, acredita, consegue se aproximar tanto deles. Outro amigo, o técnico Leandro Machado, continua sendo lembrado por Fula. E com sentimento de culpa. “Minha única dor é ter deixado o Leandro na mão. Fico muito constrangido com o que fiz, peço desculpas a ele”, conta um dos personagens mais conhecidos da história de mais de duas décadas do Santo Ângelo.
Paredes não falam, mas…
Nos cantos do Estádio da Zona Sul, porém, fala-se que o preparador físico Rafael Dias, recém-chegado do Avenida, seria peça importante na saída de Fula do clube. Ele não teria concordado com determinados pontos na atuação do massagista por aqui. O massagista substituto, Zula – talvez não por acaso – é uma indicação de Rafael.
O novo massagista, Zula, já esteve em Santo Ângelo neste semestre. Mas sua imagem ainda está bastante arranhada junto à torcida do Santo Ângelo, principalmente. Ele se envolveu em um episódio que quase complicou a vida do Santo Ângelo na Segundona Gaúcha de 2011.
Atuando pelo Riograndense em abril deste ano no Estádio da Zona Sul, após confusão dentro de campo, ele teria entregado um canivete (?????) ao goleiro Goico para que o defensor do clube de Santa Maria apresentasse a peça ao árbitro, sugerindo que havia sido jogada pela torcida santo-angelense. Fosse aceita a denúncia, o time local poderia perder o mando de campo por alguns jogos.
Dari Zanuzzo, diretor do Santo Ângelo, afirma que não ficou comprovado o fato. E, mesmo que seja, pode ter sido praticado por ordem de seus diretores na época, pois era funcionário do Riograndense. “Todos temos o direito de errar, não podemos culpar eternamente uma pessoa por um equívoco que tenha sido praticado”, explica o diretor santo-angelense, que considera Zula um “excelente profissional”.
Nada é capaz de endurecer o coração
Enquanto isso, Fula segue com a arbitragem. Sua dedicação ao Santo Ângelo parece ser inversamente proporcional ao retorno financeiro que teve em todos esses anos. Segundo o próprio Dari Zanuzzo, “Fula fazia uma atividade quase voluntária no clube, muitas vezes sem receber por isso”.
Em sua casa, buscando enganar o frio diante de um fogão à lenha, com uma caneca de café em uma mão e o radinho de pilha na outra, nesta quinta-feira Fula será apenas torcedor. Sintonizado na Rádio Sepé AM, acompanhará, de longe, aquilo que, em seus planos para o segundo semestre, deveria ser apreciado ao vivo. Ele não estará em Caxias do Sul. Mas a torcida e a vontade de ver seu time do peito ser campeão jamais deixará de existir. “Tenho o clube no meu coração, aconteça o que acontecer.”